As virtudes cardinais e a vela como ferramenta de desenvolvimento pessoal.

São diversos os motivos pelos quais as pessoas buscam a Kaluanã: necessidade de um novo hobby, busca pela realização de um sonho, maior contato com a natureza, gestão do stress e outros tantos. Embora todos esses motivos pessoais sejam fortes o suficiente, percebi que a verdadeira busca das pessoas está, de uma forma ou de outra, relacionada com a necessidade de desenvolvimento pessoal, ou seja, iniciar um processo contínuo de aprimoramento de suas habilidades, conhecimentos e atitudes, com o objetivo prioritário de viver uma vida mais satisfatória e com propósito.

Essa percepção me estimulou a buscar a compreensão de como a Vela pode ser uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e como criar uma cultura e um ambiente propício para nossos alunos se desenvolverem nesse sentido.

Minha pesquisa encontrou no Estoicismo o alicerce para criação dessa cultura de desenvolvimento pessoal e melhoria contínua: As quatro virtudes cardinais – Coragem, Sabedoria, Justiça e Temperança - são maneiras práticas de viver uma vida boa e próspera.

Nessa série de artigos contextualizarei como a vela, desenvolvimento pessoal e as virtudes cardinais se relacionam. Trarei exemplos práticos, pesquisas, conceitos e provocações sobre o assunto e como a Kaluanã se propõe, a partir de agora, ser um ambiente integrador desses elementos.

A Virtude “Coragem”:

Andreia é um nome lindo que no grego significa Coragem. Epicteto, um dos grandes filósofos estoicos, preconiza que a coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de agir de forma virtuosa apesar dele. É a aceitação do que não se pode controlar, uma vez que a única coisa que está verdadeiramente em nosso poder é a nossa reação aos eventos externos. Assim, a coragem reside em não se deixar dominar pelo medo ou pela tristeza, mas em manter a dignidade e a razão, não importando as circunstâncias.

Outro importante filósofo estoico, Imperador Romano Marco Aurélio, em seu livro Meditações, define a coragem como: “Se não for correto, não faça. Se não for verdade, não diga." A coragem aqui é a determinação de seguir a virtude da justiça e da sabedoria, mesmo que isso acarrete um custo pessoal.

A Vela nesse contexto:

Coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de agir virtuosamente apesar dele. Agir virtuosamente, à luz do estoicismo, significa que o importante é como usaremos a razão para lidar com as circunstâncias que nos fazem ter medo, esse sentimento inerente ao se humano.

Na vela nossa coragem é testada constantemente. Lidar com a imprevisibilidade da natureza em uma travessia, enfrentar as mais diversas situações de risco em uma regata, liderar tripulações complexas são apenas algumas das formas como a coragem é colocada à prova na vela.

Uma maneira de traduzir o conceito estoico de coragem para a vela passa por estar preparado tecnicamente para lidar com as situações que causam medo. Neste sentido, o conceito estoico de “razão” passa a ser o acervo de conhecimentos e técnicas que desenvolvemos em nossos estudos e treinos que nos levarão à tomadas de decisões assertivas, emprego da técnica correta e, consequentemente, ao controle do medo. 

Particularmente, tenho dificuldades de compreender a frase “se tem medo, vai com medo mesmo”. Creio que essa frase remete ao caminho curto e fácil de se lançar ao imprevisto sem estar preparado para reagir de forma consciente e técnica aos desafios que surgirão. Acredito que o desenvolvimento dos seus conhecimentos e suas habilidades te conduzirão para um comportamento correto na hora que a situação surgir e o medo bater à sua porta.

Estude, treine, teste suas habilidades. Aprimore seu acervo técnico. Esteja sempre preparado tecnicamente. Caso contrário, prepare-se para ser conduzido pelo medo que te levará a reações instintivas que, possivelmente, não resolverão a situação, podendo até agravá-las. Como define Epicteto: “coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de agir de forma virtuosa apesar dele”. Esteja sempre preparado tecnicamente.

Bons ventos.